Quando o luto termina? Essa é a pergunta que eu faço nesses últimos dois anos, quase todos os dias, afinal, a tristeza profunda é uma prisão que parece impedir que a gente siga em frente. É como uma pesada bola de ferro presa a minha perna.
Isso é depressão do luto? Não sei, nunca fui a um psicólogo para saber. Coisa de homem: a gente só vai ao médico quando estamos morrendo e quase nunca a um psicólogo!
Nós, homens, temos outra característica peculiar: não gostamos de falar sobre os nossos sentimentos. Acho que é por isso que eu desenho e escrevo aqui no blog porque falar sobre o luto é muito difícil.
Poucas pessoas parecem estar dispostas a ouvir alguém que está passando pelo período do luto. As pessoas não sabem o que dizer. Eu era assim antes de tudo acontecer, por isso não as culpo. Falar sobre o luto é um tabu. Não fomos criados para lidar com isso. Ninguém fala nada. Até parece que ninguém morre!
Hoje, as escolas estão fazendo projetos contra o bullying. Que tal fazer um projeto sobre como lidar com o luto, já que nós, pais, não sabemos? Minha mãe não falava sobre a morte, aliás ela não gostava nem de passar na frente do cemitério, pedia para o meu pai fazer outro caminho.
Eu não levei a minha filha no velório da mãe. Naquele dia terrível, liguei para a psicóloga da escolinha. Ela disse para eu levá-la. Eu estava achando uma boa ideia, no entanto, depois que ela disse que talvez eu precisasse de alguém para ajudar a segurar a minha filha, no caso dela se desesperar, achei melhor não levar.
No artigo onde me inspirei para falar de quando o luto termina, da jornalista Cyntia Almeida, criadora do site Vamos Falar Sobre o Luto, a especialista em luto a Dra. Elaine dos Reis Alves fala da importância de se falar sobre o luto. “É importante pensar em como não aguentamos ouvir a dor do outro e como não nos preparamos ou preparamos nossos filhos para essa atitude diante do sofrimento alheio”, esclarece a Dra. Elaine.
Quando o luto termina? “Falar é o que vai ajudá-las a elaborar e a sair do luto mais rápido”
Segundo a Dra. Elaine, na entrevista ao site Vamos Falar Sobre o Luto, “As pessoas sempre querem falar, a dificuldade está em serem ouvidas. E falar é o que vai ajudá-las a elaborar e a sair do luto mais rápido. Toda a pessoa enlutada precisa falar de quem morreu.”
Passados dois anos do falecimento da minha mulher, acredito que o meu luto esteja no fim, aliás como diz a Dra., no final do processo de elaboração do meu luto. Eu conto mais sobre isso no post no Facebook que está aqui embaixo.
Basta eu escrever alguma coisa sobre os meus sentimentos, que imediatamente alguém comenta que com ele foi diferente.
Claro, as pessoas não são iguais e elaboram de forma diferente. Percebo que muitos têm muita raiva, outros têm muita fé, outros, ainda, estão inseguros pelo que está por vir.
Acho que a gente tem que se esforçar um pouco também. No começo, tudo bem, precisamos assimilar. Não dá para esperar sentado, ou deitado, esperando que de repente tudo vai voltar ao normal. Quando minha mãe morreu, meu pai pensou em se matar. Isso eu descobri há alguns anos porque ele me disse. Mas, depois de um ano de luto, ele vendeu a casa, começou a fazer cursos de computador e internet – detalhe: ele tinha mais de 70 anos –, começou a namorar, ele deu um jeito para sair da tristeza.
No meu caso, eu tenho minha filha, ela tinha 5 anos quando a mãe morreu. Eu morria de medo que ela entrasse em uma depressão profunda. Foi o que me deu forças para continuar.
Sabe aquela pesada bola de ferro presa por uma corrente a minha perna? Eu tive que serrar a corrente todos os dias até ela se soltar.
No meu desespero, procurei pela internet alguma coisa sobre pais viúvos de forma precoce.
Minha esposa ficou internada de setembro até seu falecimento no último dia 14/3/2017.
Nesse período, alternou momentos de piora e grande recuperação no curso de sua doença desmielinizante na substância branca do cérebro (doença de Adem). Com o tratamento agressivo, acabou tendo infecção hospitalar e evoluindo para um Linfoma de células B, não resistindo à quimioterapia por estar imunossuprimida.
Deixou nossa filhinha de 4 anos e meio e eu estou aqui, chorando todos os dias, como se o coração estivesse pendurado em carne viva doendo dentro do peito, tentando buscar forças só se sabe onde para entender essa tragédia em nossa família e continuar a vida por minha filha.
Mas, confesso, meu sentimento é de plena revolta com as coisas divinas. Minha fé em Deus era tão forte e inabalável que nos seis meses de tratamento da minha esposa, simplesmente ignorei um desfecho desses em nossas vidas.
Confiava na cura que não veio, ao menos como eu e minha filhinha esperávamos. É uma dor insuportável.
Caro Diogo. Posso imaginar a sua dor. Também fiquei muito revoltado. Poucos sabem, mas fui à emergência do hospital meses depois que a minha esposa tinha falecido. Eu queria falar com o médico que não diagnosticou a doença fatal que a vitimou em menos de 24h. Ainda bem que ele não estava lá, eu teria feito uma grande besteira.
Acredito que sentir raiva é um sentimento até bastante normal. Eu percebo isso lendo os depoimentos aqui no blog. Só o tempo vai amenizar nossa dor. Não gosto da palavra “superação” porque acho que não é a palavra mais adequada para descrever o suposto “fim do luto”. Acho, na verdade, é que aprendemos com o tempo a viver sem a pessoa querida. Muita paz pra você e para sua família.