Medo da Morte

Eu sempre tive medo da morte. Ir a velórios era apavorante. Não chegava perto do caixão para não olhar no rosto da pessoa velada.

Chegou a hora de ir no enterro da minha mãe. Um dia terrível. Acho que foi meu primeiro confronto com o medo da morte. Me despedi da minha mãe antes de fechar a tampa do caixão com muitas lágrimas e um simples “tchau, mãe”. Relutei, no início, em carregar o caixão, mas alguém disse: “você precisa carregar o caixão, é a sua mãe”.

Na verdade, não carreguei nada, fui carregado pelo peso da morte, arrastado até um buraco na parede que foi lacrado com cimento. Posso ouvir neste momento, enquanto digito este texto, o som da espátula raspando na areia, um som que dá arrepios, um som áspero e aflitivo como o raspar das unhas em um quadro negro.

 

Medo da morte e a ansiedade

Quando a mãe da minha filha morreu de meningite tipo C, uma doença infecciosa altamente contagiosa, tive medo da morte novamente, não o medo da minha morte, mas o medo da morte da minha filha.

Tinha pesadelos todas as noites. Minha filha amanhecia com o corpo todo negro e chamava pela mãe, então eu acordava. Na noite seguinte, sonhava novamente com uma versão um pouco diferente, mas sempre terminava com o corpo dela enegrecido, do mesmo jeito que a mãe ficara quando doente.

Acredito que os pesadelos foram causados pelo estresse do medo da Rafaela contrair a doença. Só passou depois de quinze dias, tempo aproximado de incubação da bactéria, quando relaxei e me senti mais seguro.

 

Não tinha medo de morrer

Apesar de também eu tivesse o risco de contrair a bactéria, estranhamente eu não tinha medo de morrer. Talvez porque fiquei tão preocupado com a Rafa que nem conseguia pensar em mim.

Recebo muitas mensagens de pessoas enlutadas que têm pensamentos suicidas. Esses pensamentos nunca passaram pela minha cabeça. O sentimento que tive em relação à morte era de que não fazia diferença para mim estar vivo ou morto. Se a morte chegasse, eu estaria pronto para ser levado porque a vida não fazia sentido nenhum.

Agora está tudo diferente. O mundo se transformou ao nosso redor. As coisas ganharam novos significados, inclusive o meu olhar sobre a morte.

Pesquisei sobre o assunto “Medo da Morte”. O artigo mais interessante que encontrei foi sobre pânico, medo e fobia da morte. O artigo explica sobre a origem do medo da morte.

 

O medo da morte pode ser potencializado pela ansiedade

O medo da morte é instintivo, todos os animais fogem do perigo que ameaçam suas vidas. No entanto, a ansiedade como estamos vivendo nesses tempos de isolamento pode causar um medo intenso da morte.

Fico pensando o que deve estar sentindo uma pessoa que perdeu um ente querido nessa época de quarentena. Um artigo do site Estadão dá dicas e sugere que as pessoas que estão com medo excessivo da morte procure ajuda profissional.

Há vários psicólogos oferecendo ajuda pela internet. Recomendam, também, que liguem para o número 188, serviço gratuito de apoio psicológico oferecido pelo Centro de Valorização da Vida (CVV).

 

 

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